Ainda segundo a análise, os números de suicídio e autolesão entre a população mais jovem superaram as taxas na população em geral, cujo crescimento foi de 3,7% ao ano e 21% ao ano, respectivamente, no mesmo período.
Para chegar a esses números, o estudo contou com a análise de um conjunto de quase 1 milhão de dados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade), do SIH (Sistema de Informações Hospitalares) e do Sinan (Sistema de Informação de Agravos de Notificação).
"As taxas de notificação por autolesões aumentaram de forma consistente em todas as regiões do Brasil no período que analisamos. Isso também aconteceu com o registro geral de suicídios, que teve um crescimento médio de 3,7% ao ano", explica Flávia Jôse Alves, pesquisadora do Cidacs/Fiocruz e líder da investigação, em comunicado.
Aumento nas taxas foi observado nas Américas
O estudo mostrou que houve uma redução de 36% no número de suicídios em escala global. No entanto, as Américas tiveram um aumento entre os casos. No período entre 2000 e 2019, a região teve um aumento de 17% nos números de suicídios. Nesse mesmo período, o número de casos no Brasil subiu 43%.
Em relação às autolesões, em 2022 houve um aumento das taxas de notificações em grupos de todas as faixas etárias no Brasil, desde os 10 anos até acima dos 60 anos de idade. Além disso, o número de casos de suicídios e autolesões é maior entre a população indígena, com mais de 100 casos a cada 100 mil pessoas.
"Mesmo com maior número de notificações, a população indígena apresentou as menores taxas de hospitalização. Esse é um indício forte de que existem barreiras no acesso que essa população tem aos serviços de urgência e emergência. Existem diferenças entre a demanda de leitos nos hospitais e quem realmente consegue acessá-los, e isso pode resultar em atrasos nas intervenções", afirma a pesquisadora.
Além disso, a pesquisa também mostrou que a pandemia de Covid-19 não influenciou significativamente nas taxas de suicídio e autolesões no Brasil. De acordo com Jôse Alves, o registro de suicídios permaneceu com uma tendência crescente ao longo do tempo, não tendo apresentado uma mudança no período da pandemia.
"Apesar de ter sido um dos países mais afetados pela pandemia, outras pesquisas já relataram que as taxas de suicídio no período se mantiveram estáveis. O principal aqui é que, independentemente da pandemia, o aumento das taxas foi persistente ao longo do tempo", explica.
Estudos anteriores do Cidacs/Fiocruz já associaram o aumento do número de suicídios com o aumento das desigualdades sociais e da pobreza e com o crescimento da prevalência de transtornos mentais, que causam um impacto direto nos serviços de saúde, além de relatar as variações nas taxas em relação a cada região.
Para as pesquisadoras, o estudo ajudará com estratégias para prevenção e monitoramento do suicídio.
"O Brasil sai na frente nesse sentido, porque tem três diferentes bases de dados com essas informações, e elas podem ser usadas para revelar evidências que a gente pode não ver ao analisar um banco único", afirma Flávia. "Estamos reforçando a necessidade de mais estratégias de prevenção ao suicídio ao trazermos estes resultados", finaliza.
Se você tem pensamentos suicidas, ou precisa de alguém para desabafar, procure ajuda especializada. O CVV (Centro de Valorização da Vida) funciona 24 horas por dia e pode ser acionado através do telefone 188 ou através do chat online e por e-mail. Também é possível procurar ajuda nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) de sua região.